“O cara”: dubiedade de interpretação

As transmissões de televisão no Brasil iniciaram-se em 1950, com a inaugurando da TV Tupi. Quinze anos depois, em 26 de abril de 1965, foi inaugurada a TV Globo. Nessa época, pelo Brasil afora havia muitas tentativas de se colocar no ar imagens televisivas. Em Catanduva, onde eu residia então, um senhor entendido em comunicações, colocou no ar um canal de pouco alcance, mas que projetava filmes e até mesmo alguns programas ao vivo. Participei de um desses programas em um domingo de manhã. Uma nossa professora, treinou alguns alunos para irmos fazer uma apresentação de catira na semana do folclore. Ela falava sobre o assunto e nós dançamos ao som de uma música que dizia: “da palma nasce o palmito, do palmito nasce a palma, quero que você me diga quem entrou no céu sem alma”. E nós batíamos os pés, depois as mãos e, por fim, ambos. A música continuava, agora invertida: “do palmito nasce a palma, da palma nasce o palmito, quem entrou no céu sem alma foi a cruz de Jesus Cristo”.

Desnecessário dizer que esse tipo de TV local não prosperou. Era preciso concessão governamental. Mais que isso, o governo da ditatura, implantada em 1964, precisava de algo maior, um meio de comunicação que unificasse o discurso do regime para todo o território nacional. Daí que investiu na Globo, potencializando-a para tornar-se uma das maiores redes de TV do Mundo. Sílvio Santos, com o SBT, bem que tentou agradar o governo ditatorial, colocando no ar, todo domingo, um quadro especial sobre cada ministro do governo. Foi modesto, a sagacidade e a ausência de escrúpulos de Roberto Marinho foram mais convincentes e objetivas, conseguindo para a Globo investimentos governamentais incalculáveis.

Desde então a Globo tornou-se uma espécie de emissora oficial dos governantes brasileiros. Colocou-se a serviço dos governos, quando remunerada para isso, inclusive do governo petista.  A exceção de confronto foi com o governo de Brizola no Rio, único a enfrentar a poderosa rede. No governo de Lula, limitou-se a não o enfrentar diretamente como o fez com Dilma, mas na verdade a Globo está, como sempre esteve, à serviço dos governos neoliberais, dos governos das privatizações, da entrega da soberania nacional aos interesses do capital nacional e internacional.

Os programas jornalísticos da Globo e da Globo News constituem-se em verdadeiras lavagens celebrais. Defendem os interesses da classe dominante, fazem um jornalismo marrom: omitem, deturpam, mostram apenas uma das faces da moeda, esquecem-se completamente do conceito mais nobre do jornalismo que se resume em contrapor versões, ouvir ambas as partes envolvidas em determinadas ocorrências, principalmente as políticas. O pior é que as suas “notícias”, assim como as da Folha, Estadão e O Globo, são replicadas Brasil afora pelas rádios e jornais, a custo zero e sem quaisquer avaliações críticas. Papagaios é o que são, em maioria.

Mas existe ainda algo mais sutil do que as versões jornalísticas da Globo. Não obstante a queda de audiência nos últimos anos, ela consegue inserir subliminarmente aquilo que os governos neoliberais desejam implantar. E é impossível deixar de ver algo dessa rede, mesmo que você a desligue em sua casa. Ela se faz presente nos consultórios médicos, nos hospitais, nas clínicas, nas lojas, nas salas de espera. Lembro-me de que quando FHC fez o primeiro desmonte da previdência social, em uma novela, aparecia um senhor com os seus 65 anos, queixando-se amargamente por não conseguir emprego por ser idoso. Pura propaganda, os empresários precisavam empregar pessoas idosas e as pessoas idosas não desejam parar de trabalhar.

Recentemente vi o anúncio de uma matéria sobre a realidade dos camelôs, apenas o anúncio, mas ficou evidente o que se queria mostrar: os camelôs ganham mais do que aqueles que tem a sua Carteira assinada. Por trás dessa matéria fica claríssima a defesa que a Globo faz da iniciativa do governo em destruir as conquistas dos trabalhadores, em benefício dos rentistas.

Há quem roube uma galinha ou uma empresa, mas o mais perverso, o mais cruel, o mais inescrupuloso é roubar o direito dos trabalhadores, é espoliar uma nação, é ser “laranja” do capital internacional.

Obama disse que Lula era “o cara”, agora entendo: “o cara” para ser destruído.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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